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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Marina...você se pintou???

Não se trata de defender esse ou aquele candidato, apesar de minha
preferência pelo PT, mas foi um dos textos mais realista que li neste
período de campanha.




Marina,... você se pintou?
Maurício Abdalla [1]


“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é
provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher,
militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o
grito dos pobres”, como diz Leonardo.


Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é
certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e
de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz
respeito a escolhas partidárias?


Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não
pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de
que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam
aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A
batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula
contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam
a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também
quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.


Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava
fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma,
mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto
em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os
filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como
trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a
guerra suja.


Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul
tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto
aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes
meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o
Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e
ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.


Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não
cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego.
Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e
contra quem ela se dirige.


“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul
tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se
iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que
não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você
“tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula
não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da
Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse
rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.


Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de
nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa
dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina,
você já é bonita com o que Deus lhe deu”.






[1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia
(Mercuryo Jovem), dentre outros.

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